domingo, 13 de junho de 2010

O Berço de Steinbeck

A vida de Henry Morgan, o pirata que todos temiam. O único romance histórico de Steinbeck. O jovem Henry Morgan, cujos olhos “avistavam além da parede e viam coisas incorpóreas”, deixou a casa em Câmbria depois de consultar o mago Merlin e de ouvir o oráculo através da avó Gwenliana. Em sua mente ainda ressoavam as palavras de Dafyd, que depois de viajar pelas índias voltou “a fim de chorar”. O Velho Robert, seu pai, continuou a contemplar seu destino, repassando as pequenas derrotas que dele escarneciam “como as crianças das ruas atormentam um aleijado”. A simplicidade da narrativa de John Steinbeck faz com que o leitor penetre no ambiente de Henry Morgan e viva com ele a sua luta, como quando o jovem embarca no Bristol Girl, pensando em iniciar o aprendizado que o levaria a líder dos bucaneiros, e vai aportar em Barbados, com enorme surpresa e choque irreparável. Mas o seu sonho de tornar-se o Capitão Morgan, terror dos espanhóis, perdurou sempre. Naquela época em que crescia a Irmandade Livre, aquartelada em Tortuga. Henry estava certo de que as previsões da velha Gwenliana seriam cumpridas. Depois que deixou Barbados, com uma pequena fortuna e foi rejeitado pelo nobre tio Sir Edward, iniciou no Ganymed suas aventuras de bucanejro. Mas o que diria Elizabeth, a menina que ficara em Câmbria? Ou a prima Elizabeth em Port Royal? A Inglaterra não estava em guerra com a Espanha, pelo menos as diplomacias viviam a contemporizar as relações. Então Henry Morgan era oficialmente um proscrito. Logo a imagem de Elizabeth era substituída pela Santa Vermelha, do Panamá. Todas as suas conquistas lhe desapareceram da memória. Precisava deitar-se no Berço de Ouro do Panamá... do inexpugnável e temido Panamá. A lenda da Santa Vermelha crescia entre os bucaneiros, e embora todos a desejassem e vivessem de sua lembrança imaginada, e amassem, temessem ou odiassem o Capitão Morgan, quem iria se aventurar a tamanha conquista? O autor penetra no âmago de Morgan, devassa-lhe as entranhas, o coração, a mente, como um audaz cirurgião. Morgan é herói, traidor, nobre, mesquinho, forte, pusilânime, pode ser mesmo cada um de nós, com as nossas aspirações e anseios, até que, por fim, chegamos a um final nem sempre esperado, quando outros olhos abrem-se em nós, para que possamos ver “além da parede”, mesmo depois de adultos. Berço de Ouro, do laureado escritor americano John Steinbeck, foi vencedor do Prêmio Nobel de 1962.

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